e humanitária parece de algum modo contrabalançar as tristes práticas de numerosos conquistadores, origem da famosa e tão discutida leyenda negra.
Os portugueses não tiveram propriamente uma leyenda negra ou não a tiveram tão pública. E de admirar, por outro lado, o limitadíssimo espaço que, apesar de um contato assíduo com a cultura castelhana, chegou a ocupar, em sua vida intelectual, a especulação teórica em torno dos títulos legais da Coroa aos seus senhorios ultramarinos ou à submissão dos habitantes dessas terras. Tanto mais de admirar quando se sabe que alguns doutores dos mais devotados a essa especulação, como os jesuítas Luís de Molina e Francisco Suarez, o Doutor Exímio, residiram entre eles e ensinaram em suas escolas.
As especulações dos autores portugueses, nesses casos, versaram quase sempre sobre a aplicação, em casos concretos, de teorias escolásticas geralmente reconhecidas. E assim sucede ao próprio Nóbrega, quando, chamado a responder a proposições do Padre Quirício Caxa, suscitadas pelo uso que se estabelecera desde os anos de sessenta, na Bahia e em outras partes da costa, de venderem os pais seus filhos como escravos, alegando "grande ou "extrema" necessidade - parte da discussão gira, de fato, em torno do significado relativo de tais termos ou ainda de se venderem a si mesmos, sendo maiores de vinte anos.
Note-se a este propósito que, na sua solução afirmativa, motivo da réplica de Nóbrega,(36) Nota do Autor o Padre Caxa parece aproximar-se, bem mais do que seu contendor, da lição de Molina, que um historiador e apologista moderno desses teólogos castelhanos, dando-a embora como acorde com pareceres tradicionais, não tem por cristã.(37) Nota do Autor Mas a lição de Molina ainda não se definira, ou ao menos não se publicara, naquele ano de 1567, em que os dois jesuítas se viram chamados ao debate.
O paralelo que se possa tentar entre a obra dos antigos jesuítas no Brasil e a ação do Bispo de Chiapa nas conquistas de Castela, há de restringir-se quase unicamente à atividade prática desenvolvida por uns e outro. Em Las Casas, a ação estriba-se em grau apreciável numa apologia ou mesmo num panegírico dos