Visão do paraíso

Os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil

prevalece o sonho de um império supernacional e ultrapeninsular: o romano-germânico.

Seja como for, o fato é que à época onde os historiadores costumam situar o começo dos tempos modernos, já não havia memória na Espanha, quanto mais tradição, do império leonês. Alguns frades, movidos de um pensamento patriótico e de intuitos edificantes, ainda tentarão reanimar a lembrança já perdida de sua existência, e só o farão, assim mesmo, para fins do século XVI, mas essa evocação não inspira mais do que certa curiosidade erudita.

Há, sem dúvida, a outra ideia imperial, mais próxima e ainda palpitante, realizada no Santo Império. Esta não era tradicional na Península - apesar de Afonso X -, nem se pode afirmar que fosse verdadeiramente popular; provam-no as resistências espanholas aos planos de Carlos V, quando este pretendeu a sucessão de seu avó Maximiliano. E quando os seus planos afinal se realizaram, muitos ali passariam a sentir como verdadeira humilhação nacional a precedência dada ao título de Imperador sobre o de Rei de Castela.

Contudo os acontecimentos irão desenvolver-se numa direção que só pode contribuir para apaziguar essas recalcitrâncias, dando à Espanha e antes de tudo a Castela, uma posição hegemônica no mundo europeu e cristão. E o próprio Carlos V há de ser levado, pelos mesmos acontecimentos, a querer completar sua ideia de Império, de modo a que a coroa imperial se transmita à sua descendência através de Filipe. Equivaleria isso, em poucas palavras, a pretender colocar a Espanha, em lugar da Alemanha, ao centro do Estado universal.(3) Nota do Autor

Mas se, de início, a resistência de seus súditos castelhanos tivera de capitular ante os planos políticos do Habsburgo, outras causas, e causas surgidas, agora, fora da Península, impedem-no de rematá-los segundo a feição que pareciam ditar os acontecimentos. E do malogro desses planos, por onde os reinos da Península passariam definitivamente a integrar e mesmo a encarnar, de certo modo, a velha tradição de um império ecumênico, é que há de brotar esse produto novo e verdadeiramente sem precedentes na história, que representa o império espanhol.

É sob o reinado de Carlos V, o Carlos I dos espanhóis, que esse império vai tomar dimensões imprevistas, chegando a abarcar quase todo o Novo Mundo e esgalhar-se mesmo até ao Extremo Oriente, onde alcança e ultrapassa, em detrimento dos portugueses.

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