Imperador das Índias. A negativa que lhe opõe Sua Santidade é explicada pelo receio de que o fortalecimento que isso traria à igreja estatal da Espanha, tornasse insuperáveis e intermináveis os constantes atritos entre o governo de Madri e a Cúria.(7) Nota do Autor Ainda quando se tratasse de um mero expediente para resolver-se definitivamente, e em favor dos embaixadores espanhóis, a irritante querela das precedências, a simples circunstância de ser formulado o pedido indica o grau de maturidade a que chegara, na Espanha, a consciência imperial.
A coroação e investidura pelo Sumo Pontífice representaria sem dúvida, neste caso, um compromisso com o passado e uma clara reminiscência medieval, mas que serve para dissimular a simples razão de Estado. Ainda mais coerente com as concepções medievais, a recusa de Pio IV estriba-se no princípio da unidade e indivisibilidade do poder imperial. Sabe-se como a própria coroação de Carlos Magno fora justificada pela Igreja com a alegação de que não se pretendera criar um segundo Império, ao lado de Bizâncio, e sim colocar o Império carolíngio no lugar do antigo Império do Oriente, cujo trono fora tido como vacante em virtude da deposição de Constantino VI, soberano legítimo. Roma não se pretendera então menos zelosa do que Constantinopla na defesa do princípio da unidade do poder imperial.(8) Nota do Autor E não obstante essa cautelosa explicação, a dualidade pudera estabelecer-se, de fato, e iria ser uma das causas remotas do cisma religioso.
É sobretudo pelo vivo contraste com as novas perspectivas que à expansão de Castela nos mundos distantes parecem dar aquela experiência e esta consciência imperiais que realça o caráter disperso, fragmentário, linear, mais de feitorização que de colonização, assumido, quando e enquanto possível, pelas atividades ultramarinas dos portugueses. Há quase século e meio mostrou Ranke o engano dos que pensavam num império português quinhentista, considerando a extensão ocupada pelos seus estabelecimentos do além-mar.(9) Nota do Autor É mister ter-se em vista, porém, que desse engano estavam longe de participar os que, durante o século XVI, puderam informar-se com segurança sobre o que representavam aqueles estabelecimentos.
Nem sempre, é preciso dizê-lo, a verificação de tais condições, mais acordes com uma velha tradição, e tradição que acabara de ser quebrada pelos conquistadores castelhanos, é tida por desabonadora
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