Visão do paraíso

Os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil

companhia holandesa das Índias Ocidentais, e escreve no intuito de defender especificamente as pretensões neerlandesas sobre o comércio do Oriente.(11) Nota do Autor

Em outra parte do comentário De Iure Praedae repisa Grotius as mesmas observações, insistindo em que os portugueses não podem alegar em seu favor nem os argumentos fundados na justiça e nem qualquer citação convincente das autoridades. Pois todos os autores que favorecem a perspectiva de poderem os mares sujeitar-se à soberania individual, atribuem essa soberania àquele que exerce domínio sobre os portos das proximidades e ainda sobre as praias vizinhas. "Porém sobre toda a vasta extensão de costas a que nos temos referido", escreve, "os portugueses não apontarão qualquer possessão, a não ser alguns poucos postos fortificados que eles estão em condições de reclamar como seus."(12) Nota do Autor É significativa a evolução que aparentemente se operara, e operara-se desde que se impusera a experiência imperial dos castelhanos, durante o século que separa Frei Francisco de Vitória de Hugo Grócio. Partindo em grande parte dos mesmos textos que invocara o teólogo espanhol e, muitas vezes, valendo-se dos argumentos do próprio Vitória, o holandês não justifica, é certo, a espoliação das populações indígenas. Mas nem por isso deixa de dar mais peso a direitos que confere o senhorio efetivo sobre um território e, neste caso, sem dar excessiva ênfase ao problema de saber-se até onde é justo, ou não, o senhorio alegado.

No tocante às próprias espoliações e crueldades praticadas contra as populações das terras reivindicadas pelos reinos ibéricos, não acredita o mestre da lei internacional que os lusitanos fossem mais isentos de culpa do que os castelhanos, embora assim o pensassem alguns contemporâneos. "Muitos escritores certamente", diz, "são de opinião que um confronto da conduta dos espanhóis na América com a dos portugueses, entre os habitantes das Índias Orientais, mostra como os primeiros se notabilizam muito mais pela violência e os últimos pela perfídia; vale isto dizer que estes não agem com menos malícia do que aqueles, mas que os espanhóis são dotados de maior coragem e força."(13) Nota do Autor Passa, em seguida, a arrolar exemplos da perfídia atribuída aos portugueses, aludindo a seus "ímpios e abomináveis feitos", assim como a sua notória rapacidade e avareza. A seu ver, seriam ainda mais danosos os crimes que praticam do que os de outros povos, por isso que, cientes da própria inferioridade, usam a máscara

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