ameaçado, na Itália". O mesmo historiador aludindo ao relativo desinteresse de que fora objeto o Ultramar por parte dos mestres da Espanha, escreve ainda: "Acusamos Maquiavel de não se mostrar atento à imensa inovação dos descobrimentos marítimos. Ora, imagine-se que ainda no século XVII o Conde-Duque de Olivares, esse rival nem sempre infeliz de Richelieu, esse quase grande homem, ainda não chegara a aperceber-se da importância das Índias."(18) Nota do Autor
É difícil imaginar como, apesar de tudo isso, ainda sobrassem caballeros de armas para a formidável empresa de ultramar. E como fosse dado aos espanhóis perseguir sem desfalecimento a política imperial nos "reinos" e províncias do Novo Mundo. Explica-se, por esse lado, ao menos certo predomínio que foi deixado nessas terras, desde o início e sobretudo de início, à ação individual. Sem o que ficaria incompreensível ali a obra tumultuosa e turbulenta dos conquistadores. "Já se disse, e é uma verdade histórica absolutamente comprovada", escreve Ots Captegui "que o descobrimento, conquista e colonização da América Espanhola foi eminentemente popular. Significa isto que, nas expedições descobridoras, predominou o esforço privado, individual, sobre a ação oficial do Estado."(19) Nota do Autor Esse largo papel confiado e, melhor, abandonado à iniciativa individual, não impedirá que se erga, sob a égide de Castela e das leis castelhanas, o império espanhol das Índias.
No Brasil, ao contrário, e nas possessões lusitanas, ainda que pareça afrouxar-se, em dadas ocasiões e em certos lugares, como sucede com a criação das capitanias hereditárias, a presença ativa da Coroa faz-se sentir desde que principia a colonização regular. É ela sobretudo que busca manter aquele mesmo sistema de povoamento litorâneo, permitindo contato mais fácil e direto com a metrópole e ao mesmo tempo previne, ou chama exclusivamente a si, enquanto tem forças para fazê-lo, as entradas ao sertão, tolhendo, aqui sobretudo, o arbítrio individual.
É especialmente manifesto neste ponto o contraste com o que se dá nas Índias de Castela, onde tudo encaminha o conquistador para os lugares apartados da marinha e isso não só nos casos onde haja minas para lavrar ou impérios para conquistar. Só mesmo a ação decisiva de fatores históricos independentes da orientação dos governos pôde tornar menos eficaz semelhante tendência, de sorte que Buenos Aires, por exemplo, situada à orla de