Bem diverso é o caso de Portugal, onde a centralização muito mais acentuada procura espelhar-se, na medida do possível, na administração colonial. O próprio sistema de povoamento litorâneo, que não visava apenas a proteger a integridade dos senhorios ultramarinos contra a cobiça dos intrusos, como ainda a tornar mais eficaz a participação econômica e também administrativa da Coroa na colônia, acha-se bem enquadrado em tais condições. Não é sem motivo que a penetração terra adentro só se fez posteriormente, de modo vigoroso, a partir de lugares como São Paulo, onde as circunstâncias favoreciam menos a ação adversa da metrópole sobre os efeitos da atração que exerciam entre os moradores os segredos e as riquezas da terra; riquezas em peças ou em pedras.
Contudo não se há de crer que a preferência atribuída ao povoamento litorâneo significasse o fruto de uma política sabiamente dosada e calculada em todos os seus pormenores. Melhor seria dizer-se que se impôs naturalmente, por isso que era corrente, até então e desde remota antiguidade, entre os povos colonizadores. Tendo iniciado muito cedo sua expansão oceânica. Portugal encontrou pronta a fórmula já praticada entre esses povos, não apenas através de grande parte da Idade Média, mas até na antiguidade clássica. Só lhe cabia aplicá-la, na medida em que ela era aplicável em seu campo de ação cada vez mais amplo. E está aqui um dos lados do conservantismo que caracteriza largamente a ação colonial portuguesa.
Essa ação busca prolongar, em verdade, sobre as rotas do Atlântico, a dos seus predecessores e mestres: os marinheiros italianos da Idade Média. Não é talvez inútil relembrar como às origens longínquas da expansão lusitana se acha o contrato que celebrou el-Rei D. Dinis em 1317 com Micer Manuel Peçanha, o Pezagno genovês, para almirante-mor de Portugal, ao mesmo tempo em que lhe fazia a doação do lugar de Pedreira, de Lisboa. Obrigava-se ainda Peçanha a ter sempre vinte homens de mar, naturais de Gênova, idôneos para alcaides e arrais das galés del-Rei.
É inevitável pensar que a participação desses homens no desenvolvimento da marinha do Reino, primeiro passo para a obra dos descobridores, contribuiu tanto para a adoção dos métodos genoveses em Portugal como a ação dos Boccanegra o faria em Castela, embora não falte quem tenda a desmerecer sua influência.(26) Nota do Autor O fato é que o cargo de almirante continuaria a transmitir-se