Visão do paraíso

Os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil

as similitudes, que as plantações venezianas do século XIV, especialmente em Chipre, já comportavam uma técnica de plantio e fabrico do açúcar mais adiantada do que as dos engenhos americanos dos séculos XVII e XVIII, expedindo o produto em pães perfeitamente apropriados para o consumo.

É preciso dizer que esse novo "prurido de prioridade" de parte de um historiador por tantos títulos benemérito, prende-se à sua ideia de que as colônias americanas mandariam às refinarias da Europa o simples "caldo de cana": "l'attività industriale dei Corner", diz, "non si limitava a questa prima transformazione, come è avvenuto nel Seicento e nel Settecento nelle piantagione americane, che si limitavano a spedire i succhi di canna alle reffinarie europee".(32) Nota do Autor Ideia obviamente extravagante, pois é notório que esse suco

"(...) se o não purga o fogo a tempo,

em impuro azedume degenera (...)"(33) Nota do Autor

como dirá um literato do século passado, interpretando o latim de nosso Prudêncio do Amaral.

Num ponto, entretanto, a expansão portuguesa vai diferenciar-se notavelmente da que tinham realizado na Idade Média as Repúblicas italianas. Nada que lembre, no Reino, aquela prepotência de energias particularistas, tão altamente típica, sobretudo, da obra colonizadora dos genoveses. Coincidindo com a crescente afirmação do absolutismo monárquico, a expansão lusitana é, ao contrário, inseparável de uma hipertrofia crescente do poder real, que irá empolgar, ao cabo, a vida econômica do país. E contudo não cabe dizer que ainda essa hipertrofia resultasse de um plano previamente calculado para servir aos objetivos da atividade ultramarina. Surge por assim dizer espontaneamente, de acordo com os rumos tomados pela Monarquia depois de D. João I, numa trajetória que as Repúblicas italianas não conheceriam.

De acordo com tal tendência, os interesses privados ficavam largamente sujeitos ao arbítrio da Coroa e do Rei, primeiro negociante do país. Essa tentativa, a mais absorvente que se conhece de instituição de um monopólio estatal do comércio, não deveria encontrar imitadores, segundo escreve um historiador moderno

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