Dois anos no Brasil

a noite se aproximasse despedi-me das companheiras de pescaria e de sua patroa branca.

Ao voltar a bordo não sabia o nome do rio pelo qual navegávamos; metêramo-nos em tantos canais que era difícil distingui-los do curso principal ou de seus afluentes. Cada braço do Madeira tem uma denominação. Policarpo chamava Ramo àquele por onde íamos viajando. Mesmo num único rio os nomes variam conforme as localidades que banha. Quando fui de Maués visitar os índios amigos da lua disseram-me que subia o Limão. A artéria-máter deste colossal sistema fluvial, ela própria muda três vezes de nome entre a nascente e o Oceano: Amazonas, do Pará a Manaus, Solimões, de Manaus a Tabatinga, e dali ao Peru, Maranhão. Quantos enganos não haverá nessas várias denominações!

Aproximando-me do Amazonas e tornando-se raros os índios tatuados, passei grande parte do dia a limpar os objetos de uso, disposto a ir a terra caso passássemos perto de algum sítio habitado. Limpei também as armas. Não teve maior interesse para mim esse dia, mas no outro ia, à falta de melhor assunto, pintar umas plantas quando pisei a pata de um jacarezinho meio enterrado na areia da praia. Tive vontade de pegá-lo vivo; com a ajuda dos índios amarrei-o pela ponta do focinho, mas assim, se não podia morder, também não poderia comer; deixá-lo solto na canoa seria imprudente. Enrolamos-lhe a cabeça com uns panos e cipós, pendurando-o na popa; minutos depois não se mexia mais. A preparação desse jacarezinho foi trabalhosa porque a pele era dura como ferro.

Depois de termos passado pela foz do Anidira, que se lança no Ramo, penetramos novamente no Amazonas, acima de Vila Bela. Ali, se quisesse, teria terminado minhas atribulações; tomaria um vapor e em oito dias estaria

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