Dois anos no Brasil

no Pará. Mas, sentindo-me mais forte, quis ainda um pouco de aventura, navegando em canoa até Santarém e subir, se possível, o Tapajós. Conforme o combinado, deixei em Vila Bela os três índios Maués, paguei-lhes à razão de uma pataca por dia; receberam o dinheiro sem me dizer nada, deram-me as costas e desapareceram. À dificuldade de procurar outros remadores juntava-se a obrigação, custosa para mim, de meter-me na roupa preta e visitar o promotor e o delegado de polícia, para quem trazia cartas. Se essa toilette me era penosa num certo conforto de quarto, que diria numa canoa onde só podia estar sentado ou de joelhos. Nesses instantes maldizia mais do que nunca os remadores fujões, porquanto sua substituição me obrigava àquelas torturantes cerimônias de indumentária.

Achava-se a canoa afastada bastante da terra enxuta e era preciso meter-se n'água para alcançá-la. Nada me custava fazê-lo, pois me acostumara a isso, porém de botinas as dificuldades eram tremendas. Tive de chamar um negro e ele me carregou às costas sem me machucar o trajo nem estragar os objetos aos quais ia dever uma recepção amável e conseguir os homens de que precisava. Mas a praia era extensa e o sol bem ardente. Deste modo, apesar do guarda-sol, quando me apresentei com minhas cartas estava banhado de suor. Não era fácil obter os remadores; mandaram-me a um padre e este fez com que me levassem a um comerciante português que, por sua vez, me expediu ao subdelegado. O subdelegado conferenciou com o promotor e afinal me prometeram não somente os dois remeiros, mas também um soldado que me acompanharia até Óbidos. Voltariam pelo vapor, com despesas por minha conta, bem entendido. Como as cartas de recomendação explicavam quem eu era e a que trabalhos me entregava, pediram-me mostrasse meus desenhos a um punhado de pessoas atraídas pela curiosidade

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