Dois anos no Brasil

voltava à Corte e, no dia seguinte, fui ao palácio de São Cristóvão, mais ou menos, às 11h. M. B. mandou-me entrar para uma galeria de arquitetura bastante simples, onde esperei Sua Majestade. Experimentava grande estranheza nisso, pois em Paris me garantira pessoa bem informada que a etiqueta no Brasil não permite se falar com o monarca e sim a um seu conselheiro, que traduz os pedidos, os quais são depois lidos diante do Imperador, a fim de poupá-lo do incômodo de estar atendendo aos visitantes. Se a carta ou o pedido merecer resposta, deve-se deixar o endereço, e será feliz o que tiver solução dentro de um mês.

De conformidade com esse cerimonial, que lembrava o das cortes despóticas do Oriente, esperava a todo momento que aparecesse o introdutor quando de uma peça, ao fundo da galeria, me surge o Imperador, que, muito gentilmente, recebeu a carta que lhe estendi. Após havê-la lido, teve a extrema bondade de indagar o que eu desejava do Brasil; fez-me perguntas sobre minhas viagens, parecendo verdadeiramente interessado com as respostas, notadamente no que dizia respeito ao polo Norte. Saí encantado dessa audiência, tão diferente do que esperara. Esqueci-me de dizer que Sua Majestade, curioso de ver alguns esboços por mim trazidos da Europa, deu ordens para que me conduzissem imediatamente ao paço da cidade e ali escolhesse o apartamento que me conviesse.

Bem se vê como devemos desconfiar de certas informações. Contrariamente ao que me asseguraram, Sua Majestade acolhe bondosamente a todos os que o procuram, sem distinção de classes. Sempre os que o visitam se trajam convenientemente. Não há, porém, nenhum rigor nessa indumentária. Presenciei várias pessoas por ele recebidas vestidas com simplicidade. Todos são, inclusive os pobres, atendidos naquela galeria do palácio de São Cristóvão onde o monarca passa uma parte do ano.

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