Dois anos no Brasil

na praia. Ao viajar temos de observar tudo. No cais existe, vizinho ao mar, magnífico hospital. Adiante, num terraço, veem-se dois elegantes pavilhões: é o passeio público. Não pude nesse dia visitá-lo; íamos ver uma casa na encosta de uma colina, em cujo alto existe uma igreja, e que reunia duas condições bem agradáveis: o mar, para o banho, e árvores, para nos protegerem do sol; nada havia para se alugar, no entanto, ali, e continuamos nossas buscas desejosos de abandonar o hotel dos percevejos o mais depressa possível. Depois da Glória, como se chama a tal colina, vai-se ao Catete, de que ela faz parte. Nele moram os aristocratas da nobreza e do dinheiro; é, como já acentuei, uma espécie do bairro de Saint Germain no Rio. Lindas casas, encantadores parques tornam essa parte da cidade bem convidativa; se bem que a febre amarela não a poupe, ao que dizem, por causa da vizinhança do mar. É pelo menos o que afirmam. Eu esperava encontrar aqui, como em Lisboa e Madeira, ruas cheias de flores; tal não acontece, porém, e os jardins, por mais interessantes que sejam, não se comparam aos nossos. Neles não vi flores magníficas como as que ornamentam nossas estufas. Prosseguindo em nosso caminho, chegamos a Botafogo, numa praia. A mais bela habitação pertence ao Marquês de Abrantes, esclarecido espírito protetor das artes, ao que asseguram. Em nenhum ponto desse trajeto obtivemos casa para nos instalarmos. Aliás, teríamos de comprar móveis e alugar um negro ou uma negra para a cozinha. E eu tinha, num só dia, avaliado os inconvenientes de longa permanência na cidade. Decidimos assim ficar mesmo no hotel, uma vez conseguido outro quarto, com janela. Regressamos a penates num pequeno barco a vapor.

Não me convindo demorar mais a visita ao Imperador, para lhe entregar as cartas de recomendação, resolvi ir até Petrópolis. Neste ínterim, porém, Sua Majestade

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