Tive a surpresa de verificar, entretanto, que uma altíssima percentagem das informações prestadas por Thevet, — sobretudo, os dados de ordem etnológica e de ordem histórica, — são reais. E mesmo os fatos não observados diretamente por aquele viajante, como é o caso, por exemplo, da viagem de Orellana. Embora, como é de esperar, algum tanto falha (pois Thevet a transmite através dos depoimentos orais dos marujos e viajantes da época), nem por isso a narrativa da viagem de Orellana, em muitos aspectos, deixou de ser confirmada pelo relatório sincero e fiel de Gaspar de Carvajal. (1)Nota do Tradutor O que prejudicou, em grande parte, a obra de André Thevet foram os defeitos de sua formação intelectual, conforme tão bem o observou Almir de Andrade, — o pedantismo literário tão comum no século XVI, a mania de fazer polêmica a pretexto das menores coisas, a citação, a cada passo, dos filósofos gregos e latinos e a falta de senso crítico. (2)Nota do Tradutor Mas ao etnólogo (por mais que isso possa arrepiar a pele do leitor), pouco importa a mediocridade do observador. Por outras palavras, o etnólogo quer saber apenas se os fatos observados são reais, abstraindo deles a deformação operada pelos comentários do moralista, ou pelos reparos do crítico superficial. Esse, aliás, é o pensamento de A. Métraux, que, por não o ter bem explanado, parece ter causado estranheza a Almir de Andrade. (3)Nota do Tradutor