entre a lues venerea e o morbo gálico. Veja-se o seu capítulo" sobre a salsaparrilha.
A expressão lues tinha antigamente uma significação larga e genérica, dentro do campo científico. Os que estudam a história médica encontram frequentemente, nos autores antigos, as expressões lues divina para a epilepsia e lues gálica para a sífilis. Alguns empregaram a designação lues indica para as doenças venéreas que infestavam os índios.
A sífilis, cujo aparecimento em caráter epidêmico, na Europa, coincidiu com a fase das descobertas, em virtude da virulência com que dizimou a França, foi apelidada de mal gálico ou mal francês e com esses nomes disseminou-se por todo o continente, em particular menção pelos países mediterrâneos.
O primeiro trabalho médico sobre a sífilis, aparecido na Europa, foi o de Ruy Diáz de Isla (Barcelona, 1493). Lacumarcino, em 1524, publicava um estudo sobre a doença, então em plena ordem do dia, subordinado ao título De Morbo Gallico. A palavra sífilis apareceu pouco depois com a obra de Joronymo Fracastor, Syphilis sive de Morbo Gallico (Verona, 1530). Desde então numerosos escritos foram divulgados sobre o mal, subordinados ao termo gálico. Nesse sentido, o documentário bibliográfico é vastíssimo. Encontram-se referências nos trabalhos de Paracelso, G. Fallopio, Jean Fernel, Ambrosio Paré, Valsava, Astruc, etc. E, por interessar particularmente aos estudos americanos, merecem citação os livros De cura Morbi Gollici per Lignum Guaiacum, 1517, de autoria de Nicolau Poll, médico de Carlos V; Liber de Guaiaci Medicinae et Morbo Gallico, de Ulrico van Hutten (Mogúncia, 1519); Dialogo del Morbo Gallico, de Mattiolio (Bolonha, 1530) e De Morbo Gallico, de Victorio Benedicto (Florença, 1551).
Não há dúvida de que os antigos empregavam o termo gálico particularizando a infecção sifilítica. Alberto Saavedra (Linguagem Médica Popular, "Portugal Médico", 1915) diz acerca do termo: "Esta palavra gálico foi primitiva e propriamente aplicada somente à sífilis".
Francisco da Fonseca Henriques, autor do Madeira Ilustrada (Lisboa, 1751), dedicou um capítulo do seu livro ao Método de conhecer e curar o Mal Gálico. A esse propósito, diz Fernando São Paulo, que, "dos escritos venerandos fornecidos pela antiga medicina lusa, retira-se o conceito de ser a sífilis o denominado gálico". Até os meados do século XIX era comum nos livros médicos essa expressão aplicada à sífilis. Imbert, que escreveu em 1834 o seu Tratado Doméstico das Enfermidades dos Negros, intitula de Vírus Gálico o seu capítulo sobre a sífilis e demais infecções do grupo venéreo. Da palavra gálico surgiu e generalizou-se