O Selvagem

em contato com outra é a comunidade da língua. Este é o primeiro passo de uma catequese regular.

Mas como conseguir que os brasileiros se dediquem a estudar línguas selvagens? Isto é impossível; quando houvesse a boa vontade, faltariam os elementos para esse estudo; a pequena coleção que possuo em uma única língua custou-me muito dinheiro e muito tempo.

Mas se não é possível fazer os brasileiros estudarem as línguas selvagens, é possível, é fácil educar meninos selvagens que, continuando com o conhecimento da língua materna, sejam nossos intérpretes, o laço entre a civilização ariana, de que nós somos os representantes, e essa civilização aborígine que ainda não transpôs os limites da Idade da Pedra, e de que eles são os representantes.

Em 1871 criou-se neste plano, e sob a proteção da sereníssima Princesa Imperial, o Colégio Isabel; estão aí representadas hoje todas as tribos do Araguaia, nos 52 alunos que conta. Figurem-se mais dez anos; representemos pela imaginação que em cada uma dessas tribos, algumas das quais são inteiramente bárbaras, o viajante que as tiver de visitar encontre dez ou 12 pessoas que falem a nossa e a língua aborígine, que saibam ler e escrever, que sejam indígenas pela língua e sangue, mas que sejam brasileiros e cristãos pelas ideias, sentimentos e educação: não é muito provável, pergunto, que essa tribo, seguindo as leis naturais da perfectibilidade humana, se transforme, senão em tudo, pelo menos tanto quanto baste para começar a ser útil? Parece que sim. A história da humanidade dá testemunho de que as transformações dos povos só se hão efetuado aos impulsos de um homem de sua mesma raça.

Ou eu me iludo muito, ou os numerosos índios dessa vasta região estarão utilizados em menos de 15 anos.