O Selvagem

antes, um roubo que os espanhóis haviam feito de mulheres guatós, e que talvez já datasse de mais de cem ou 200 anos.

Para eles os paraguaios continuam a ser castelhanos, assim como nós continuamos a ser portugueses. Quem sabe se não foram essas mulheres, roubadas há tanto tempo, a razão da extrema fidelidade que nos guardaram sempre esses selvagens que, forçados desde o princípio da guerra a passar muitas vezes pelas rondas paraguaias, nunca denunciaram nossos movimentos ou presença nem por gesto? O dr. Carvalhal, distinto médico do exército, que, acossado pelo inimigo no combate do Alegre, se viu obrigado a refugiar-se entre os guatós, que com eles errou por muito tempo, e que, portanto, teve o espaço e vagar para notar seus costumes, insistia em suas narrações sobre o singular recato, modéstia e honestidade da família guató.

Tomemos agora outro tipo mais severo ainda do que o guató, e na bacia dos Amazonas: o xambioá.

Os xambioás com os carajás, carajaís e javaés formam uma só nação, com 60 ou 80 aldeias espalhadas à margem do rio Araguaia, desde o furo Bananal até as Intaipabas (itaypabe, água que corre sobre pedregal), o que mede uma extensão de 120 a 125 léguas, e com uma população de cerca de sete a oito mil indivíduos. Entre esses índios há dois fatos nimiamente curiosos nas instituições que regulam as relações do homem com a mulher.

O primeiro destes é haver nas aldeias homens destinados a ser viri viduarum. Esses indivíduos não tem outro mister; são sustentados pela tribo e não se entregam, como os outros, aos exercícios das longas viagens e peregrinações, que todos fazem anualmente, embora revezando-se.

Esta singular casta, sustentada pelos outros, me despertou