O Selvagem

a necessidade de exprimir a filiação, empregava de preferência a palavra mãe, como judiciosamente observa um escritor.

O sistema geral de teogonia tupi parece ser este:

Existem três deuses superiores: o Sol, que é o criador de todos os viventes; a Lua, que é a criadora de todos os vegetais; e Perudá ou Rudá, o deus do amor, encarregado de promover a reprodução dos seres criados. Como observarei adiante, as palavras que no tupi exprimem sol e lua me parecem indicar o pensamento religioso que os nossos selvagens tinham para com esses astros, e que fica indicado. Cada um destes três grandes seres é o criador do reino de que se trata: o sol, do reino animal; a lua, do reino vegetal; e Perudá, da reprodução. Cada um deles é servido por tantos outros deuses, quantos eram os gêneros admitidos pelos índios: estes por sua vez eram servidos por outros tantos seres quantas eram as espécies que eles reconheciam; e assim por diante até que, cada lago ou rio, ou espécie animal ou vegetal, tem seu gênio protetor, sua mãe. Esta crença ainda é vulgar entre o povo do interior das províncias de Mato Grosso, Goiás e sobretudo do Pará, e é provável que também do Amazonas.

O sol é a mãe dos viventes, todos que habitam a terra; a lua é a mãe de todos os vegetais. Estas duas divindades gerais, às quais eles atribuíam a criação dos viventes e dos vegetais não tinham nomes que exprimissem caracteres sobrenaturais. As expressões que indicam qualidades abstratas deviam vir em um período muito posterior àquele em que a civilização ariana, trazida pela raça conquistadora, veio encontrar os selvagens da América.

Não tinham termos abstratos para exprimi-los: diziam simplesmente: mãe dos viventes, mãe dos vegetais. É sabido que a palavra sol é guaracy, de guara,