O Selvagem

Além desse destino misterioso, que o homem prossegue depois da morte, e para o qual colocam eles a comida e as armas do morto, teonguera, junto a sua sepultura, possuo duas lendas que recolhi no Pará e que parecem indicar que os tupis admitiam uma espécie de vida semelhante à que nossas superstições atribuem às almas penadas; assim como admitiam a possibilidade da transformação do homem em outros seres.

Há ainda hoje em Cametá um célebre honorato [sic], a quem a população indígena do lugar atribui a faculdade de transformar-se em peixe ou em cobra, e viajar pelo fundo dos rios quando lhe apraz. Estas superstições são restos de alguma crença religiosa dos velhos tupis, a qual, ou não chegou até nossos dias ou não soubemos recolher.

XI

Lenda de Mani

Uma das lendas, à que me referi acima, conserva a tradição de que o uso da mandioca, que tão importante papel representa na vida dos índios, lhes foi revelado por um modo sobrenatural.

A mandioca é não só o pão de nosso selvagem, como também a substância de que tiram diversos vinhos, como o kauin, a muniquera, o puchirum e outros. Sua descoberta foi para eles mais importante do que a do trigo o foi para os aryas.

Se bem que esta lenda pertença mais ao domínio da poesia do que ao da ciência, não posso furtar-me ao desejo de inseri-la aqui, como um espécime curioso do produto da imaginação dos nossos selvagens. Ei-la tal qual me foi referida pela mãe do sr. coronel Miranda, ex-tesoureiro da Thesouraria da Fazenda do Pará,