comida; as armas do morto o acompanham, porque ele necessita de comida e das armas para prover o seu sustento. Uma e outra coisa ser-lhe-iam desnecessárias se a morte acabasse tudo. Asseveram-me pessoas sisudas que as índias xavantes, no estado selvagem, devoram os filhos que morrem, na esperança de acolherem novamente no seu corpo a alma do menino.
Nunca presenciei esse fato; estou mesmo sem muito boas relações com o mais poderoso dos capitães xavantes, de nome Zaqué; já lhe perguntei; ele riu-se e não me respondeu, o que tomei por uma confirmação, porque convém notar que os nossos índios são muito orgulhosos de suas crenças; nada os ofende tanto como pô-las em dúvida, e daí vem que são minimamente discretos quando conversam com um cristão sobre tal assunto.
Muitas tribos do baixo Tocantins e do Amazonas encerram seus mortos dentro da própria casa e isto eu já tenho presenciado; fazem-no na esperança de, quando dormirem, serem visitados pela alma daqueles a quem amaram. Esses fatos demonstram, a não deixar dúvida, que eles acreditam que, além da vida de que gozamos neste mundo, existe outra que é continuada pelo ser independente do corpo. Pensarão que ela é eterna? Acreditarão em um lugar de bem-aventuranças e de eternas penas? Não sei; ainda não pude verificá-lo.
Como disse, os índios são muito reservados e discretos em tudo quanto diz respeito a assunto religioso. No meio da conversação mais animada, se se lhes dirige qualquer pergunta tendente a esclarecer um desses pontos, eles tornam-se imediatamente frios, às vezes sombrios e, ou respondem por monossílabos, ou nada respondem.