pantanais não são mais do que as partes em que a água está coberta pelas plantas aquáticas de que acima falei, em um tecido tão basto e compacto que um homem deitado em cima se sustenta; e tanto é assim que, quando nas primeiras enchentes o rio destaca algum pedaço deste imenso tapete para arrastá-lo em sua serena e vagarosa corrente, os tigres costumam embarcar em cima, e assim viajam dias; a planta que forma este tecido é uma espécie de lírio aquático de flores brancas em cachos, com o cálice da corola às vezes roxo, às vezes cor de rosa; é conhecida pelo nome guarani de aguapé. Do forte Olympo (Paraguai) até Albuquerque, a árvore que predomina nestes desertos dos pantanais é a palmeira carandá, que se assemelha ao buriti, muito conhecido de todos nós; de Albuquerque para cima os pantanais são comumente acompanhados e cortados de zonas estreitas, mas extensas, de bosques muito densos, e às vezes muito elevados, conhecidos com a designação de capões (do tupi cahapôm); às vezes, ao pé desses capões, onde a água é mais baixa, crescem zonas, que vão a perder de vista, de arrozais silvestres.
O índio guató, para colhê-lo, não tem outro trabalho além do de meter por ele adentro a sua canoa e de bater indolentemente com o longo remo sobre as espigas vergadas para dentro do barco, que dentro em pouco tempo fica cheio com aquele grão de que ele e nós nos servimos como do arroz asiático. As viagens que se fazem em canoas pelo rio não são isentas de acidentes; há três inimigos contra os quais o viajante deve estar prevenido: a piranha, o sicuriju [sucuriju] e o tigre.
A piranha é peixe de escamas cor de pérolas, que raras vezes excede a um palmo, mas de uma voracidade que ultrapassa a quanto se pode imaginar; é dotado de dentes que cortam como navalha. Por ocasião da abordagem do vapor Jauru, quando o distinto capitão de