O Selvagem

dos da ilha de Marajó, são cobertos de florestas, ora baixas e raquíticas, ora gigantescas, escuras e grandiosas. A bacia do Amazonas é muito mais rica, mas em compensação é mais tristonha e mais doentia.

Nada direi do aspecto dos rios senão que têm as margens mais elevadas do que as do Prata, cobertas de lama e as águas barrentas. Os lagos são de grande beleza, sobretudo na parte da bacia que fica em cima do grande plateau ou araxá central. Suas margens são ordinariamente cobertas de bosques espessos nas proximidades dos rios em que desembocam; às vezes são de campinas abertas ou de cerrados, nome com que os homens do interior designam os campos sombreados de algum arvoredo rarefeito e entortilhado, em que predominam a árvore de lixa, o piqui e o muriti. Estes lagos são formados pelos ribeirões que defluem nos rios. Mais de uma vez inquiri a mim mesmo como é que esses pequenos ribeirões cavavam essas grandes bacias, e eis aqui a explicação, pelo que me parece, desse fenômeno: sendo, como é, chato e quase sem declive esse terreno, o rio represa os ribeirões, porque sua massa de águas é maior e mais corrente; ele representa, portanto, para com os ribeirões, o papel de dique; represada a água do ribeirão, sendo sua correnteza pelo comum muito inferior a do rio, e, sendo a pressão da água do rio muito maior no fundo do que na superfície, a corrente da massa de água acumulada pelo ribeirão se subdivide em duas: uma, a do fundo, que, indo de encontro à massa do fundo do rio, toma um curso de retrocesso e remonta o ribeirão; a outra, superior, que, elevando-se um pouco acima do nível do rio, se escoa por ele afora, graças ao excesso de pressão atmosférica que ganha com a elevação do nível; esta explicação me parece que podia dar a fórmula para o cálculo em cavalos mecânicos do trabalho desempenhado pela água do ribeirão para