O Selvagem

Os tupis do Pará pescam-no com a sararaca, flecha cujo dardo é unido à haste por linha comprida de tucum enroladas à mesma haste e disposta de tal forma que, quando se crava no peixe a haste solta-se, e, como é de cana, flutua sobre a água, indicando assim as direções que o peixe ferido leva no fundo; o pirarucu, que tem necessidade de respirar ar atmosférico, quando vem à superfície do lago é novamente flechado, e assim o vão perseguindo até lhe exaurir as forças; conseguido, os índios tomando a haste da flecha, que está segura ao dardo cravado no peixe pela linha de tucum de que falamos, procuram levá-lo a algum baixio, saltam à água e, com uma pancada de massa sobre a cabeça, o matam. O pirarucu é um peixe das dimensões do mero, de cinco a oito palmos de comprimento, de seis a oito de circunferência, roliço, de largas escamas, que tem o diâmetro de uma polegada e meia, de um belo verde-escuro; as escamas da barriga e da parte posterior do corpo são orladas por um semi-círculo de cor vermelha vivíssima; é daí que lhe vem o nome, porque pirá rucú quer dizer peixe urucu, isto é, com pintas cor de urucu.

Disse acima que a região do Amazonas é de florestas, enquanto a do Prata é de campos; fazem exceção a estas florestas a ilha do Marajó e algumas da foz do Amazonas, assim como a região que fica ao norte de Macapá, que são cobertas de alegres e férteis campos, onde inumeráveis famílias de pássaros aquáticos, com as variedades de suas cores e com os seus pios e cantos, alegram os olhos e ouvidos do viajante, destruindo o silêncio, monotonia e tristeza das regiões de florestas. O solo dos rios do Prata é argiloso; o dos do Amazonas é arenoso. Isto indica o seguinte fato geológico: eram graníticas as rochas que deram sedimento para aquela região; eram de grés arenoso as que deram os sedimentos para a do Amazonas. Não quer isto dizer que se não