A história natural do homem, que faz o objeto especial da antropologia, divide-se naturalmente em duas seções:
1ª A que trata das qualidades físicas das diferentes raças.
2ª A que trata das mais fundamentais manifestações morais.
Entre as manifestações morais, têm merecido particular atenção dos sábios as ideias religiosas e a mitologia das diferentes raças.
O ano atrasado (1874) tive a honra de ler, perante esta respeitável associação (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro) as primeiras investigações a respeito da teogonia da mais numerosa família selvagem sul-americana.
Depois disso, tive necessidade de fazer uma viagem ao Pará, e dali à foz do Amazonas, e assentei de aproveitar a oportunidade para estudar novos fatos.
Como houvesse empregado quase todo o ano de 1873 em estudar a forma amazônica da língua tupi, com a qual consegui familiarizar-me, achei-me preparado com o principal e mais indispensável instrumento para observação de mitos que, entendendo como aquilo que cada povo tem de mais íntimo, escapam quase completamente à observação dos viajantes, enquanto não puderem falar a língua do selvagem. Pude assim conseguir parte da preciosa mitologia zoológica da família tupi. Confrontando depois essas lendas com outras que ouvira em Mato Grosso, como direi adiante, firmei o juízo de que elas eram comuns à família tupi-guarani, e, além de conter um código de moral, são preciosos documentos para investigar o que é que constituía o fundo geral do pensamento humano, quando o homem atravessava o período da idade da pedra.