Oxalá renasça o gosto por estudos que em tão má hora foram cobertos de desprestígio por quem já não tinha força para fazê-los.
Pelo que ficou escrito, o leitor terá visto que o selvagem no Brasil não é uma raça somenos e incapaz de grandes aperfeiçoamentos morais. Se me fora dado entrar agora em outra ordem de considerações, demonstraria que os mestiços do índio e branco constituem uma raça enérgica e que mais iniciativa possui no Império. Entre nossos homens ilustres, alguns dos quais mais se distinguiram pela fortaleza de seu caráter, pela virtude da perseverança, que não é muito vulgar entre nós, foram mestiços. Citarei, entre outros, o padre Diogo Antonio Feijó.
Contra o pressuposto de que os índios falam uma gíria sem leis nem regras; de que não têm ideias morais, sentimento de religião; de que são indolentes e preguiçosos, protestam: a bela língua tupi, suas admiráveis instituições de família, suas tradições e crenças religiosas, sua extrema atividade na pesca, na caça e na guerra, únicos trabalhos cuja utilidade compreendem. Não trabalham nas coisas em que nós trabalhamos, porque nem foram habituados a isso, nem sentem as nossas necessidades.
Sombrios, bons, dedicados até ao heroísmo, alguns lhes chamam traiçoeiros e falsos. É porque quase sempre eles são vítimas de traições e falsidades que praticamos, abusando de nossa posição de raça conquistadora, e por isso lhes damos razão de sobra para reagirem contra nós; e se reagem com hipocrisia, é porque essa é a arma do fraco.
É uma grande raça, repito. Temos muito a ganhar pondo-nos em contato com ela pelo orgão indispensável do conhecimento de sua língua; por muitos anos os índios hão de ser os precursores da raça