O Selvagem

Esse fato vai desenvolvido adiante, e o que fica dito é quanto basta para provar esta verdade:

Assim como os hábitos de uma vida ainda isenta dos cômodos da civilização foram qualidades muito úteis no nosso exército, sem as quais não teria sido possível movê-lo, se não com uma lentidão que teria feito talvez escapar a vitória, assim também essa mesma falta de civilização é condição indispensável de sucesso na elaboração da riqueza nacional, que, se exige uma luta menos sanguinolenta do que a da guerra, contudo nela não se alcança a vitória se não quando a solicitamos pelos meios adequados.

Não é só uma questão de utilidade: é também uma questão de segurança no presente e no futuro. Consintam-me que insista sobre estes pontos, reproduzindo fatos de própria observação. Tendo ocupado durante cerca de seis anos as presidências das províncias em que existe maior número de selvagens, Goiás, Pará e Mato Grosso, nelas minha atenção foi chamada sobre a seguinte questão:

Sendo a superfície do Brasil de 291 mil léguas quadradas, só o território das três supramencionadas províncias e o do Amazonas representam mais de metade, quase dois terços do território do Império, isto é: 182.400 léguas quadradas, onde as populações cristãs e a civilização não podem pacificamente penetrar, por causa do obstáculo que lhes opõe cerca de um milhão de selvagens aguerridos e tenazes, que não entendem a nossa língua, e nós não temos meios de ensiná-la, porque ignoramos a deles.

Na presidência de Goiás e Mato Grosso eu vi experimentalmente que o principal instrumento de trabalho na indústria do interior — a criação do gado — é o índio antigamente catequizado pelo jesuíta, ou o mestiço seu descendente. Mais tarde, viajando pela