O Selvagem

República do Paraguai, Corrientes, Santa Fé e outras províncias argentinas, vi que ali, como no interior do Brasil, e províncias do Rio Grande, Paraná, São Paulo — o principal instrumento da riqueza pública, o vaqueiro por excelência, não era nem o branco nem o preto, e sim o gaúcho, o caipira, o caburé, o caboclo, o mameluco, o tapuio, nomes que indicam a mesma coisa, a saber: — o antigo índio catequizado pelo jesuíta, ou pelos corpos de línguas e intérpretes tão sabiamente organizados pelos antigos portugueses e espanhóis.

Em todo o vale do Amazonas e seus grandes afluentes, quer no território do Brasil, quer nos da Bolívia, Peru, Nova Granada, Venezuela etc., o instrumento principal de riqueza não é nem a raça branca, nem a raça preta. A raça branca representa os misteres intelectuais; mas o trabalho, a elaboração da riqueza que ali depende em tudo de indústrias extrativas, é exclusivamente filha do antigo índio amansado naquele vale pelos corpos de intérpretes, auxiliares indispensáveis da civilização, e do missionário.

Não foi só isso: tendo sido forçado a viajar muitas vezes do Rio de Janeiro a Mato Grosso, isto é, a atravessar todo o Brasil de leste a oeste; e a viajar de Montevidéu ao Pará pelo interior, isto é, a atravessar todo o Brasil de sul a norte, vi que todas as nossas comunicações pelo interior estavam à mercê dos selvagens, porque nós, população cristã, possuímos apenas a circunferência desta enorme área chamada Brasil: o centro está em poder do selvagem, que possui também as regiões mais férteis; assim como os cursos dos grandes rios navegáveis, cada uma de cujas bacias cobre um território tão grande como o das maiores monarquias europeias, como Javari, Purus, Madeira, Tapajós, Xingu, Araguaia, Tocantins, Japurá, Rio Negro, Rio Branco, só na bacia do Amazonas, sem falar nas da do Paraná.