O Selvagem

Matim-taperê e do Curupira, que é descrito como um pequeno índio, com os calcanhares virados para diante, que faz perder os caminhos aos que viajam pelas solitárias e silenciosas florestas do interior.

Nesta conferência não tenho espaço para descrever estes seres, mas fa-lo-ei na segunda edição do Selvagem.

Alimentação — A base da alimentação europeia é o trigo, a do africano é o milho e o inhame, a do brasileiro é a mandioca, tanto do brasileiro selvagem, como do civilizado, menos dos que querem passar por europeus, porque esses só comem pão. A bebida europeia é o vinho e a cerveja; a do brasileiro é a aguardente de cana, de mandioca ou de milho, a que na linguagem paulista antiga é chamada cauim ou tepipira.

Danças — As europeias são a valsa, a quadrilha; a africana é o batuque, que é pouco moral; a brasileira, essencialmente paulista, mineira e fluminense, é o cateretê, tão profundamente honesta (era dança religiosa entre os tupis) que o padre José de Anchieta a introduziu nas festas de Santa Cruz, São Gonçalo, Espírito Santo, São João e Senhora da Conceição, compondo para elas versos em tupi, que existem até hoje e de que possuo cópia.

Tenho assistido muitas vezes a estas festas e danças ao som da viola, que era instrumento indígena de três cordas de tripa, a que eles chamam guararapeva. O cateretê tem a vantagem de importar em maior exercício físico e intelectual, por causa do canto e do verso, do que as danças europeias.

Nós que, por força, queremos ser europeus, também desprezamos estas danças americanas por imorais, quando o padre José de Anchieta as adotou e introduziu nas festas religiosas.

Luta física, capoeira — O europeu luta com a espada, florete ou pau. O brasileiro luta com a faca,