O Selvagem

e de detalhes complicados, como sejam os das ciências físicas e químicas.

Moralidade — Nos europeus o sentimento do dever é mais profundo do que no brasileiro do povo, e, nesse ponto, a superioridade do europeu é incontestável.

Linguagem — A língua falada no Brasil já não é o português de Camões, João de Barros, ou frei Luiz de Souza; está, em sua gramática, em seus sons e em centenas de termos populares, cruzada com a língua tupi ou nheengatu, como o demonstrei em minha obra O Selvagem.

Aqui em São Paulo, então, os nomes tupis, enxertados no português, são por centenas, senão por milhares. O nome do camponês, já não é esse, e sim caepira, do tupi caapira, que quer dizer montador ou capinador de mato; caapinar vem também da palavra tupi capin, que, em português, significa erva; paçoca, jaguaraíva, jaguapeva, sapecar, moquear, tenhenhen, piá, por filho, e centenas de outros são termos tupis passados para a língua dos paulistas.

Quando duas senhoras brasileiras conversam, ouve-se muitas vezes este dissílabo — em-em; ora, este em-em é o sim das senhoras — na língua tupi.

A língua tupi não tem l [letra L]; o nosso homem do povo paulista, mineiro, guaiano ou fluminense nunca pronúncia o l com o h; não diz: melhor, mulher, milho, e sim: mio, muié, e mió, porque o tupi não tem l.

Superstições populares — Ao lado do Lobisomem e da Mula sem cabeça, que são superstições europeias, do Zumbi, e do Kibungo, que são africanas importadas para o Brasil, o caipira de São Paulo, Minas, Rio, Goiás, Mato Grosso, Pará, e julgo que de todo interior do Brasil, acredita nas predições de morte dadas pela ave mahauan e nos malefícios do Caipora, do Boitatá, do