O Selvagem

É inegável que o estrangeiro olha, em geral, com desdém para o brasileiro, e nisso imita o brasileiro, que é o primeiro a não se orgulhar de sua nacionalidade. É assim que as casas de comida são denominados ou Maison d'Or, ou Rôtisserie, ou Maison Moderne; as de modas Palais Royal ou Louvre; as senhoras que querem passar por aristocráticas são denominadas madame ou mademoiselle; às estações de estradas de ferro chamam gare, e um sem número de tolices pretenciosas deste jaez, que mostram que um brasileiro, em vez de orgulhar-se de ser americano, falando o seu português-brasileiro, o que quer é passar por francês ou, pelo menos, por europeu.

À vista disto, é perfeitamente justo que o europeu nos despreze.

O caboclo (aliás, cariboco), que é, como tão bem disse o dr. Eduardo Prado, o verdadeiro brasileiro, que vive quase sem terras, enxotado para os lugares mais insalubres ou mais estéreis, vítima constante do recrutamento, sem direito até de ter filhos, porque, como grande parte deles não é casada, há juizes de direito que reduzem à escravidão esses filhos, dando-os de soldada aos ricos, até a 12 mil réis por ano, são conservados sujos, mal alimentados ali, sem aprender a ler nem escrever. Entretanto, quando foram levados ao Paraguai, souberam morrer ali pela liberdade do povo que seus maiores quiseram escravizar!

Possa o centenário de Anchieta fazer com que o brasileiro respeite, honre, desenvolva e eduque suas origens americanas, e Anchieta prestará, depois de morto, serviço igual aos que prestou durante a vida; então, o filho desta terra, em vez de querer passar por francês ou por europeu, dirá: eu sou brasileiro, com o mesmo orgulho com que o americano do norte diz: eu sou yankee.