O Selvagem

não vêm extinguir, como a poética e indígena viola ou guarará-péva, já está quase extinta pela prosaica e fúnebre sanfona.

Durante minha morada na Inglaterra, assisti a bailes em castelos de lords, dos grandes senhores territoriais daquele país, e neles dançavam sempre o scotish-gig, que é uma espécie de cateretê escocês, e, perguntando eu a razão, me responderam que, conquanto a velha nobreza da Inglaterra aceitasse as danças francesas e alemãs, contudo ela não se esquecia de que era inglesa, e por isso não prescindia das danças nacionais, nas reuniões que dava em seus castelos.

Julgo que devíamos fazer a mesma coisa no Brasil; entretanto, o fato é o seguinte: danças europeias, com músicas às vezes detestáveis que impedem aos vizinhos de dormir, todos podem fazer; dançar, porém, o cateretê brasileiro com a viola ou guarará-péva, com o pandeiro ou enguá, com os versos ora satíricos, ora amorosos, dos bardos caipiras, sem prévia licença da polícia, equivale a ser dispersado à força ou ir para a cadeia!...

Das dezenas de quadras que possuo dos caepiras, citarei apenas uma, como espécime, e é:



Tenho um bem que me quer bem,

Um bem que me dá dinheiro,

Um outro que me dá pancada;

Esse é o meu bem verdadeiro.



Ignoro qual a razão porque os brasileiros desprezam tudo quanto é nacional e só estimam o que é francês, sobretudo o que é banal, frívolo e palavroso nessa nação.