O mesmo se tem dado no Chile, Peru, Bolívia e Estados Unidos.
É com o duplo fim, por um lado, de tirar vantagem do solo ainda ocupado pelos selvagens e por outro, de prevenir futuras dificuldades, que o governo imperial me tem encarregado mais de uma vez de trabalhos relativos à nossa população indígena, trabalhos de que este livro é uma parte.
No Brasil as coisas não chegaram ao ponto acima mencionado por duas razões: primeiro, porque temos atendido mais a este assunto de nossos selvagens do que o fizeram aqueles países; segundo, porque o nosso território é mais vasto e o selvagem aqui vive à larga. Mas se não conjurarmos o mal, ele há de vir.
Este livro é um preparatório para a criação do corpo de intérpretes, que a exemplo do que fizeram nossos maiores os portugueses (os quais, em matéria de colonização, foram grandes mestres), nós também devemos criar aqui, sobretudo porque não importa novas despesas, pode-se aproveitar pessoal já existente e pago, limitando-se o esforço da administração a organizar e dirigir o serviço.
Encarregado, há anos, pelo sr. Conselheiro Diogo Velho de organizar o serviço de catequese do Araguaia, sugeri o plano que ali se pôs em execução, e que consiste, em resumo, no aproveitamento do intérprete indígena para auxiliar o missionário, pela mesma forma por que procederam os antigos.
Com efeito — de que serve o missionário, com a santidade das leis, da religião, se ele não tem língua por onde ensine a regeneradora moral do cristianismo?
Não foi porventura o próprio Cristo que, com o mandado de espalhar sua doutrina pelo mundo, disse aos apóstolos que, antes de fazê-lo, o Espírito Santo desceria sobre eles e lhes daria o dom das línguas?