Não quererá isto dizer que o intérprete é coisa tão importante entre uma raça cristã e uma raça bárbara que, sem ele, impossível será trazer aquela a assimilar-se com esta?
Os antigos portugueses organizaram, com o nome de corpo de línguas, os intérpretes militares, a cuja ação pacífica devemos hoje mais da metade da população operária do Brasil.
Os jesuítas espanhóis e portugueses criavam nos colégios os intérpretes, que não eram outros senão os meninos selvagens a quem davam uma organização militar, e que depois espalhavam pelo meio das tribos bárbaras. O padre Montoya, em instruções dadas para um dos colégios do Paraguai, dizia: "aquela tribo onde houver uma língua (intérprete) é uma tribo mansa".
Dizem as crônicas que o padre Montoya (é o mesmo missionário que melhor falou o guarani) só por si amansou mais de cem mil índios!
Este único fato não tornará evidente o imenso poder do homem bárbaro, desde que este homem civilizado dispõe do intérprete para se fazer entender?
Como é que o missionário, pobre estrangeiro que não conhece o português, que veio para cá em idade avançada, há de aprender línguas selvagens?
Não é muito mais fácil e econômico dar-lhe o intérprete?
Este livro é um preparatório para a realização dessas aspirações. Foi o respeitável e honrado sr. conselheiro José Agostinho Moreira Guimarães quem me sugeriu a ideia de aplicar o método de Ollendorf à língua geral; a ele devo me haver constantemente animado e insistido na realização de um trabalho por sua natureza árido e tanto mais difícil para mim, quanto eu, vindo dessas longas peregrinações pelo sertão, estava muito longe de tudo quanto era