Memórias de um magistrado do império

Em 22 de agosto de 1878 narra a sessão do Tribunal de 17:

..."0 Procurador da Coroa, por ordem do Silveira Martins, M. da Fazenda intimou ao Presidente do Supremo Tribunal de Justiça o conflito, que este Ministro da Fazenda levantava, para que o Supremo Tribunal de Justiça não pudesse conhecer da prisão por ele feita ao Saturnino, tesoureiro das loterias alcançando em rs. 280:000S000, nem conceder-lhe Habeas Corpus, se achasse injusta a prisão. O Tribunal tem sempre negado o Habeas Corpus, mas reconhece-se competente para conhecer das prisões ordenadas pelos Ministros do Estado. Basta isto para revoltar o orgulho dos nossos Ministros de Estado, que na oposição ameaçam com revolução, se não obtiverem reformas, e obtendo as reformas, ultra-iberais, como é o art. 18 da Reforma Judiciária, mas subindo ao poder, renegam o seu passado, aspiram à onipotência, e revoltam-se contra quem ousa defender os direitos do povo, que eles na oposição fingiam defender. Joaquim Marcelino, com uma ombridade, que nunca esperei de seu caráter fraco, e imprópria da sua idade, não respondeu ao Ofício do Procurador da Coroa, e declarando por despacho no mesmo ofício, como se fosse um requerimento de parte, que não tinha lugar o conflito, mandou o Ofício para a Secretaria e submeteu ao Tribunal um novo requerimento do Saturnino. O Tribunal negou o Habeas-Corpus por 7 votos contra 6, sendo eu um dos vencidos; mas discutiu de novo a questão da competência, julgando-se competente para conhecer das prisões feitas por ordem dos Ministros de Estado. O Silveira Martins está furioso: o "Jornal do Comércio" diz que está doente de cama, e proibido de todo trabalho intelectual. A "Gazeta de Notícias" de hoje diz que falou-se muito ontem na saída do Silveira Martins e do Marquês de Herval, pois o Silveira Martins exige a aposentadoria de todos os Ministros do Supremo Tribunal de Justiça, exceto a do Vasconcelos, irmão do Zacarias, único que julga o Tribunal incompetente, e, se não são aposentados, é porque o Sinimbú se opõe. Se eu, no fim da vida, depois de 44 anos de serviço,

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