Memórias de um magistrado do império

de cima do Governo, mas toda a imprensa do Rio atribuía estes artigos à pena do Gaspar. Não insisti por prudência e tornei a falar na aposentadoria no fim do ano. Realmente, sinto-me inválido, minha memória fraca, minha cabeça tonta, meu ânimo desgostoso. Basta".

Só em setembro se encerrou este rumoroso incidente, segundo narram as cartas de 11, e 22 desse mês.

"Finalmente concedeu-se o Habeas-Corpus ao Saturnino que deve comparecer 4.a feira seguinte perante o Tribunal, e veremos então se deverá ser solto, prestando fiança."

E finalmente:

"Saturnino obteve a fiança, mas não conseguiu fiador para tão avultada quantia" e "assim fica inutilizado tanto barulho, tanto trabalho, tanta descompostura e ameaça aos magisrados. Lá se avenham!"

O ressentimento contra o ardoroso tribuno gaúcho revela-se nas cartas seguintes. Referindo-se à crise financeira - o câmbio caíra a 21! - tem estes comentários:

"O Silveira da Mota que aqui jantou ontem, diz que o culpado é o Silveira Martins, que não conhece a praça, nunca lidou com ela etc."

"A Relação deu provimento ao recurso do Saturnino e anulou o processo feito perante o Juiz de Direito por ordem do Silveira Martins, porque não sendo o tesoureiro das loterias empregado público, deve responder perante o Júri. Assim tinha opinado a flor dos advogados, consultada a este respeito. Foi portanto novo cheque que levou o Silveira Martins, que aliás a ninguém concede saber e trata a todos de burros."

Ao mesmo tempo procurava ainda reconciliar o genro com a Família Imperial, baldado intento, mas tão grato ao seu temperamento. Para isso servia-se da chamada boa intriga: transmitia recados e apelava para o cavalheirismo de Jacobina. Em carta de 23 de julho:

Memórias de um magistrado do império - Página 348 - Thumb Visualização
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