Memórias de um magistrado do império

"Na noute de 25 do corrente estive no concerto da Filarmônica, que agora se reune no salão do Cassino Fluminense. Quando fui cumprimentar a Imperatriz, S.M. me perguntou por ti e pelo Jacobina. Quando lhe disse que estavas em Auteil, S. M. teve um estremecimento, e disse-me com voz muito branda - Lá também está minha filha - não disse - "Princesa" - disse - "minha filha".

Quisera pois merecer de ti e de teu marido a fineza de irdes visitar a Princesa e o Conde d'Eu. Nem isso é só civilidade, é dever. Quando D. Francisca Barbosa faleceu, a Princesa, então Regente, mandou visitar o Jacobina, que em minha companhia foi agradecer-lhe a honra. É portanto um pagamento de dívida. A tesouraria perguntou por ele: ele deve agradecer-lhe deste modo. São todos brasileiros e estão fora do país. Se não fossem esses aborrecimentos passados, que tanto me tem aflingido e afligem, era agora ocasião de ser ele promovido a Veador Honorário, o que lhe traria uma Excelência de jure, que eu tanto aprecio. Leva os teus dois interessantes filhos e mostra-os a ela e ao Conde. Então? Serei atendido?"

Pelo que parece não o foi. O fato é que se confessava vencido a 27 de setembro:

"A respeito de sua visita aos Príncipes, fico ciente, e não direi palavra."

Em compensação vingava-se do genro dando más notícias do movimento republicano, em 7 de outubro:

"Fui assinar a "República", segundo a sua ordem, mas já tinha morrido: se ressuscitar segunda vez, assinarei. Agora já não há republicanos: uns estão deputados, outros apresentam-se às senatórias, outros ocupam as posições de confiança e de rendimento, para quê mais repúblicas? A "Reforma" defende a dissolução da câmara e os direitos do Poder Moderador. Eu acho que vamos muito bem, e que sob qualquer forma de governo o povo pode ser feliz, e que o povo tem sempre o governo que merece. Nós temos mais do que merecíamos a Deus".

Memórias de um magistrado do império - Página 349 - Thumb Visualização
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