Memórias de um magistrado do império

no Rio um centro onde todos se reunissem, vendo nele o símbolo vivo das tradições de família.

A sua cegueira total obrigava-o agora a ter sempre junto de si alguém que lhe fizesse companhia. A mulher e as filhas revezam-se, mas a prima Mariana Barbosa de Oliveira, ficou com o encargo efetivo de ler-lhe jornais e novelas. Qualquer outra leitura fatigava-o sobremaneira.

No entanto sempre fora amigo das belas letras. Versejava mesmo, com certa elegância. Durante a vida acadêmica compusera muitos poemas que cuidadosamente reunira em um caderno que denominou Obras Minhas. Mas um dia sentiu um ar de mofa em um colega e destruiu toda a sua produção. Sempre se arrependeu desta fraqueza e jamais se perdoou o acesso de respeito humano.

Mais tarde, no entanto, teve ocasião de compor outros poemas. Nos serões da rua dos Inválidos era uma das ocupações prediletas a composição de charadas. Todos tomavam parte nas tertúlias. Ainda estão no arquivo de família vários rascunhos e originais destas composições.

Esta é dedicada à sua afilhada, Sabina KellerLeuzinger:

Nobre apelido de família egrégia - 1

No lácio idioma tudo exprimo aos pares - 2

A 1.ª e 3.ª um verbo formam

Que males cura, remedeia azares

Men lindo nome, nas remotas eras

Marcou um fasto da Romana história

Começou desde então p'ra grã cidade

O lustre, a povoação, o brilho e a glória.

Elas roubadas foram por conquista

Eu roubo o coração a quem me avista.

Memórias de um magistrado do império - Página 355 - Thumb Visualização
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