Memórias de um magistrado do império

o Snr. João Teotônio, era de família muito nobre. Em 1.° de novembro de 1755, dia do notável terremoto de Lisboa ele era moço, talvez de 18 anos. Fugindo ao cataclismo, perdeu um sapato, andou três dias perdido, sem saber da família, com um pé calçado e outro descalço, e depois a achou. Indo para Coimbra, no tempo da Reforma da Universidade de Pombal, casou-se com minha avó: seus irmãos levaram a mal o casamento, porque minha avó não era de família igual, e ele, caprichoso, rompeu com os irmãos, e nunca mais se assinou - Ferreira - apelido da família. Além de seu ordenado de Empregado da Universidade, possuiu casa, em que morava, e em que nasci, quatro casas, que alugava a estudantes, e todo o edifício de S. Marcos, antigo convento dos frades Grilos,(32) Nota do Leitor que converteu em 4 ótimas casas, que alugava a lentes. Na noute de 2 de julho de 1811 uma inquilina caloteira deitou fogo ao ex-convento, que ardeu todo, e meu avô, já por sair ao sereno, suado e alta noite, já por desgosto e dor de ver, que sua família ficava mal, morreu duma apoplexia e a pobre família, além dessa desgraça, foi roubada a pretexto de ajudarem a apagar o incêndio.

Teve meu avô os seguintes filhos, a saber: minha mãe que foi a mais velha, nascida a 29 de dezembro de 1787, e falecida a 23 de outubro de 1852; minha tia D. Libânia, que veio morrer no Rio de Janeiro; minha tia D. Ana que morreu tísica em 27 de dezembro de 1827; minha tia D. Maria Urbana, que também faleceu tísica em 1827; a minha tia Emília que faleceu de 14 anos, de febre; e meu tio Adriano, único varão, que se

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