Estes índios são muito trabalhadores e são eles que, com suas vastas plantações, alimentam não só o povo de Boa Vista, como ainda o pessoal das embarcações que navegam pelo Tocantins, até o posto de São João. Gabam-se ainda de ser excelentes remadores, muitos deles tendo feito a viagem pelo rio até Belém do Pará. Por esta longa viagem, que dura de seis a oito meses, recebem a título de pagamento uma espingarda ordinária, de cinco ou seis francos. Explica-se deste modo a quantidade de armas de fogo que se veem em suas casas, não obstante o fato de usarem sempre, de preferência, nas caçadas, arcos e flechas. Vimos ainda entre eles machados de pedra dura, presos em cabos muito curtos. Como cada habitação contém em média umas quarenta pessoas e a aldeia possui vinte e uma casas, deve-se calcular a população desta última em 850 habitantes. Encontramos o aldeamento quase deserto, havendo fugido os seus moradores. Não obstante, fomos recebidos pelo chefe, que nos apresentou à sua mulher, vestindo ele camisa e calças brancas e trazendo esta, que estava sem camisa, um chapéu cor-de-rosa. Eu queria muito obter alguns ornatos dessa nação de índios; mas o chefe me disse que não os poderia ceder na ausência de seus donos. Prometeu-me levá-los no dia seguinte, o que de fato fez.
Não nos demoramos a deixar este aldeamento, para visitar um outro situado a este-nordeste, duas léguas mais distante. Tivemos aqui a compensação do pouco interesse despertado pelo primeiro. Os selvagens apareceram reunidos em grande número, entregues a uma de suas danças mais solenes. Estavam, na sua maioria, sarapintados de preto, de branco e de vermelho; muitos traziam magníficos enfeites de penas reluzentes. Ao pôr do sol adquiriram as danças renovada animação, chegando índios de todos os aldeamentos vizinhos, cada qual com a sua borduna, seu arco e suas flechas, senão uma lança, ou uma espingarda. Apareceu logo o chefe do aldeamento em que tínhamos