Expedição às regiões centrais da América do Sul v.1

vestuário, se posso dar este nome às cores vivas com que estavam pintados. A maioria deles trazia ainda à cabeça uma espécie de carapuça branca ou vermelha, feita de farinha de milho ou de resina. A dança era das mais monótonas, consistindo em movimentos bruscos do corpo, durante os quais jogavam para frente, sucessivamente, uma ou outra perna. Ao som de um canto lúgubre, batiam a cada momento com as armas no chão. Frente a eles vieram alinhar-se as mulheres, também numa única fila, com a diferença de não trazerem no corpo nenhuma pintura. Inclinavam-se ligeiramente para diante, conservando os joelhos sempre unidos e movendo os braços em cadência, ora para diante, ora para trás, de modo a levar as mãos uma junto à outra. Entre os dois grupos acendeu-se uma grande fogueira, sobre a qual saltava de quando em quando um personagem inteiramente pintado de vermelho e tendo nas mãos uma cabaça cheia de seixos. Corria rapidamente em frente às mulheres, detendo-se por vezes diante de alguma delas em cambalhotas extravagantes e agitando freneticamente o instrumento musical. Outras vezes, pondo o joelho no chão, inclinava-se subitamente para trás, exibindo em tudo isso força e agilidade notáveis. Estas cenas prolongaram-se por várias horas. Quando uma das mulheres era derreada pelo cansaço, uma outra tomava o seu lugar; mas os homens continuaram a noite toda a sua dança monótona. Pelas onze horas, dominado pelo sono, procurei a rede para deitar-me; tive porém poucos momentos de descanso, porque não tardou que me viesse despertar um dos companheiros de viagem. O espetáculo, de fato, havia mudado novamente de aspecto; a lua, no ponto mais alto de sua trajetória, iluminava com luz intensa toda aquela cena. Uma longa fileira de homens e mulheres marchava diante da fogueira, entre os dançadores; cada qual segurava a ponta de uma rede com uma criancinha

Expedição às regiões centrais da América do Sul v.1 - Página 350 - Thumb Visualização
Formato
Texto