Trouxeram-nos os bons índios os cavalos que tinham tratado com muito cuidado; despedimo-nos então deles, deixando-lhes alguns pequenos presentes.
Ao sair do aldeamento matamos uma cascavel. Estas cobras são muito comuns em toda a região, admitindo-se que a sua mordedura seja sempre mortal. Assim como na América do Norte, vivem quase sempre nos lugares secos e pedregosos. Regressamos à missão através da bela mata de palmeiras indaiá que tínhamos admirado no dia anterior. É esta zona, com certeza, uma das mais belas do mundo. Em percurso, encontramos todas as forças militares de que dispunha o governador de Boa Vista, isto é, quatro soldados, que vieram saber se nos tínhamos alimentado na noite anterior.
Pelo curto contato que tivemos com os apinajés, convencemo-nos de que votam eles à lua um culto supersticioso. Aliás, este sentimento é muito generalizado entre os aborígenes da América do Sul, aparecendo principalmente quando o disco do astro se esconde, em consequência de eclipse. O padre Ludovico, que tanto tempo conviveu com os botocudos, contou-me que certa noite foi despertado por gritos desesperados, cuja causa imediatamente descobriu ser um destes fenômenos celestes. Disse-me ainda mais que, apesar de tudo quanto fez para explicar aos índios a natureza do fenômeno, não pôde impedir que eles se preparassem com flechas e tacapes, a fim de lutar contra os tigres e as serpentes que supunham estarem prontos para atacá-los.
As danças religiosas dos apinajés apresentam singular semelhança com as que Correal e Levy observaram entre os selvagens da costa oriental do Brasil, no tempo em que os franceses estiveram estabelecidos em Villegaignon. A descrição de Levy é particularmente de notável exatidão; nos dois povos as notas do canto são idênticas.