Lima. Chegando a Cuiabá, pôde reunir todas as provas do roubo. Os nossos objetos foram encontrados em várias lojas, garantindo os negociantes tê-los adquirido de pessoas chegadas ao capitão; mas não foi possível obter a punição do responsável pelo crime.
Quando passamos por Vila Maria estavam sendo celebradas as festas do Pentecoste. Afora as cerimônias religiosas, houve espetáculo, em que foi representada a Inês de Castro e algumas outras peças mais ou menos interessantes. O fim da festa foi assinalado por uma grande representação, de que fez parte, entre outras coisas dignas de nota, uma pantomima em que Caim desancava Abel a cacetadas, invocando contudo a cada momento o nome de Nosso Senhor.
Toda a população do lugar corria a ver essas coisas, o que nos deu ensejo de apreciar a enorme desproporção existente entre o número de pessoas dos dois sexos. Havia nada menos de duas mulheres para cada homem.
Vila Maria tomou este nome por ter sido fundada sob o reinado de D. Maria I. A cidade parece destinada a rápido crescimento; mas o descaso do governo, e também dos próprios habitantes, de par com a falta de comunicação com o baixo Paraguai, tem impedido que ela se desenvolva como era de esperar. Sua população não vai além de quinhentas ou seiscentas pessoas e toda a freguesia de que é ela centro não possui mais de mil e oitocentos habitantes de todos os matizes, inclusive cerca de duzentos escravos. Contam-se entre os habitantes uns seiscentos índios, descendentes, diz-se, dos chiquitos da Bolívia. Vila Maria está situada na margem esquerda do rio Paraguai, num lugar em que a barranca não tem menos de uns dez metros de altura. Apesar da situação em que está, toda a região em volta não raro se acha inundada, pois o Paraguai, recuando sempre para o lado esquerdo, tende a destruir o terreno em que está construída a cidade. Já várias