a minha curiosidade. Tomei por isso a dianteira, seguindo na frente só com o meu índio Catama. O mato por onde íamos estava cheio de répteis, vendo-se a cada passo cobras atravessarem a estrada. Uma delas mordeu o meu cavalo; mas, por felicidade, os dentes só alcançaram o casco do animal, que assim não sofreu o menor prejuízo. Ao anoitecer viam-se nas árvores bandos de macacos, ao mesmo tempo que as nuvens dos periquitos, recolhendo das peregrinações do dia, quase nos ensurdeciam com o seu vozerio estridente. A mata era muito fechada, havendo lugares em que as touceiras de bambus trancavam completamente a passagem; mas a vista de meu indiozinho era bastante aguda para descobrir a trilha no meio da escuridão. Íamos andando muito devagar, até que, por fim, tive a alegria de avistar a clareira que denunciava o rio. Em poucos instantes, a ele efetivamente chegamos. À nossa frente estava uma ponte de madeira. Chegados ao meio dela apeamos, debruçando-nos sobre o parapeito, para contemplar o rio que corria pacificamente aos nossos pés, levando as suas águas através de regiões desconhecidas até o Amazonas, esse rio gigantesco que era então o objeto de nossos sonhos constantes. Reinava em tudo a mais completa quietude; o calor era abafadiço e nem o mais leve sopro movia os ramos da sombria mata que nos cercava. De súbito, por cima das copas alterosas surgiu o disco da lua, para alterar com a claridade de seus raios o aspecto da paisagem. Do meio dos ervaçais, à beira do rio, começaram logo a ecoar as vozes mais variadas dos sapos e pererecas; do fundo da mata, os grandes felinos faziam ouvir os seus roncos, ao mesmo tempo que, dentro da água, os jacarés soltavam grandes urros, perseguindo os cardumes de peixes; os vagalumes iluminavam a cena, e a superfície do rio, que até então mal se destacava pela sua brancura, dourou-se repentinamente, refletindo os raios oblíquos da lua. Enquanto isso, entoavam as aves noturnas