Expedição às regiões centrais da América do Sul v.2

o seu concerto e enormes morcegos voejavam em torno de nossas cabeças. O mundo animado, que por um momento silenciara ao pôr do sol, punha-se de novo em movimento, celebrando a aparição do astro da noite. Alguma coisa impressionante havia nessa súbita transformação. É diante de cenas como essa que o homem se compenetra de sua mesquinhez em face das maravilhas infinitas da natureza. Estávamos a sós nessa região selvagem e os sons que ouvíamos de tal modo nos pareciam estranhos, que os nossos próprios cavalos relincharam, dando mostras de desassossego; o menino, amedrontado, pôs-se a chorar, chegando-se estreitamente a mim. Passada uma hora, ouvimos os gritos dos tropeiros que se aproximavam; então, no quadro que tanta impressão nos tinha causado, não víamos mais do que uma dessas cenas comuns da vida nos sertões.

A formação geral é a canga e, por cima, camadas de areia branca. A ponte sobre o Guaporé tem 40 metros de comprimento e três de largura; é de madeira e muito bem construída. É grande a correnteza do rio. Há na margem esquerda um barracão com quatro bonitos canhões de bronze; foram trazidos de Portugal nos fins do século passado e eram destinados ao forte de Coimbra. De Belém, foram transportados águas acima, através do Amazonas, do Madeira e do Guaporé, de onde deveriam seguir por terra até o Jauru. Na culatra destas peças lê-se a seguinte inscrição: Arsenal real do Exército. 1797. Uma delas traz o nome de Maria I, com as armas de Portugal.

Existem ainda na extremidade ocidental da ponte dois barracões; tomamos conta de um para passar a noite.

No dia 8 continuamos a nossa viagem por dentro da mata; o caminho era muito bom, bastante seco, e por conseguinte muito diferente do que deve ser durante a estação das águas, quando as viagens por aí se tornam impossíveis, ou pelo menos muito demoradas e penosas. Nestas ocasiões

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