Expedição às regiões centrais da América do Sul v.2

a cada momento se depara com trechos inundados, que só é possível transpor a nado ou de pelota, espécie de barquinha feita de um couro de boi amarrado nas duas pontas. O viajante se senta no fundo, enquanto um homem a nado vai puxando a frágil embarcação. Adiante, a estrada se mete por uma garganta, atravessando uma serra formada de grés quartzoso muito duro. Esta serra parece correr de sudeste para noroeste(1). Nota do Tradutor Passado o desfiladeiro, deixa-se a floresta, mas um dos galhos da serra continua a acompanhar de longe a estrada, que corre para o norte. Na planície só o que se vê são cangas, tendo por cima camadas de areia branca. Nossa marcha foi de oito léguas e o nosso acampamento armou-se à beira de uma lagoa, chamada do Buriti.

No dia 9 fizemos quatro léguas e meia, e a 10 três léguas e um quarto, para chegar finalmente em Mato Grosso. O terreno era sempre constituído de cangas cobertas de areias. Durante a caminhada encontramos diversas lagoas; os campos, em que entramos no dia 8, depois de sair da garganta a que nos referimos, continuaram até uma meia légua além do nosso acampamento do dia 9, depois do que, com mais uma caminhada de três quartos de légua, chegamos a uma casa, chamada Sítio do Craveiro. Conheci aí um preto muito velho, mas que nos deu provas de possuir conhecimentos que eu nunca imaginei encontrar num morador daquele recanto. Esse homem era filho de Angola e havia acompanhado, quando moço, um missionário português numa grande viagem através da África meridional. Contou-me ele que todos tinham passado por muitas privações; mas ao mesmo tempo me disse que os negros costumavam fazer com muita frequência essa viagem. Do que ele me disse eu depreendi que depois de

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