íamos nos meter. Tínhamos como finda a nossa triagem, no que respeita aos perigos que devíamos correr. Entretanto, os filhos do lugar tinham sobre o assunto opinião muito diferente; constante terror lhes inspiravam as tribos inimigas e não se cansavam de dizer que o caminho por mim escolhido correspondia à divisa que separa as duas nações selvagens existentes na região, ou sejam as dos xavantes e dos canoeiros, e que, por conseguinte, estaríamos sempre expostos aos ataques dos guerreiros de ambas aquelas tribos. Os canoeiros parece pertencerem à raça dos bororos, afirmando-se que o nome a eles dado pelos brasileiros provém do hábito de estarem sempre navegando no rio com suas canoas, enquanto que os xavantes sabem apenas construir balsas, para atravessar os rios. Encontramos muitas vezes, nas praias, construções deste gênero. Pertenciam a esta nação os índios que, trazidos para a região com o fim de ser aldeados, voltaram à vida selvagem, tornando-se inimigos dos civilizados, por falta de cuidados adequados por parte do governo e principalmente depois do desaparecimento das missões.

Todos os selvagens sacrificam sem piedade os prisioneiros; mas, entre os indígenas da América do Sul não se verifica geralmente o hábito de torturá-los antes de matar. Os canoeiros, pelo contrário, a exemplo do que fazem os índios da América do Norte, sentem prazer em infligir tormentos às suas vítimas, sendo difícil imaginar-se o horrível espírito de invenção que revelam neste particular. Ora é uma mãe a que fazem devorar os miolos do próprio filho, ora é uma mulher que amarram à proa de uma canoa, fazendo-a alternativamente mergulhar e voltar à tona, num suplício que às vezes dura muitos dias. Também, embora esta tribo não seja antropófaga, é ainda mais temida do que os próprios xavantes.

A 20, a chuva, que não tinha experimentado interrupção desde nossa estada no rio do Peixe, nos acompanhou