Expedição às regiões centrais da América do Sul v.2

durante toda a jornada, que foi de quatro léguas. Se bem que o caminho fosse bom e plano como nos dias anteriores, tal era o estado de magreza de nossos animais, que tinham a aparência de estarem já exaustos de cansaço; era um começo bem triste para a viagem que tínhamos de fazer. A região continuava muito plana e apenas entrecortada, num ou noutro lugar, de trechos pantanosos. O terreno parece sempre de formação aluvial, mas em diversos pontos observam-se argilas. Reconhecemos também, em dois ou três lugares, cangas sotopostas a estas últimas e de aspecto igualmente argiloso. Acampamos perto de um pântano chamado Brejo das Canas. A paisagem era bastante pitoresca; a vista era limitada por um magnífico buritizal, de onde o nosso pessoal não tardou a arrancar as grandes palmas em leque, para construir uns sete ou oito ranchos à prova de chuva. Nesses campos, grande era a atividade da vegetação, não sendo isso devido somente às chuvas, mas também às queimadas feitas pouco tempo atrás. Entre outras plantas, havia uma grande quantidade de bonitas malpighiáceas de flores douradas e frutos vermelhos, várias compostas de belas cambiantes róseas e purpurinas, amarantáceas de capítulos prateados ou citrinos. Encontravam-se também em toda a região grande número de frutos silvestres; era aí abundante o caju (Anacardium occidentale), a cagaiteira, o puçá [mandapuçá], a jabuticaba do campo, de polpa muito semelhante à do abricó europeu. Encontramos com muita frequência a mangabeira (Hancornia speciosa), cujo fruto açucarado só é bom depois que todo o leite se transformou num xarope transparente, e o piqui (Caryocar brasiliense), de fruto muito apreciado, apesar de o termos achado de sabor pouco agradável.

A 21, chegamos depois do meio-dia à fazenda de Santa Cruz dos Itãs, após três léguas e meia de marcha. Fomos aí muito bem recebidos pelo coronel Jubê, seu proprietário.

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