Expedição às regiões centrais da América do Sul v.2

Esse velho é inglês, mas passou quase toda a sua vida no Brasil. As benfeitorias da fazenda eram constituídas de três casas pequenas, solidamente construídas de adobe e cobertas com telhas. Morava o coronel com um dos filhos, que era padre. Havia ao todo uns vinte habitantes nesse pequeno sítio, perdido em pleno sertão. Na antevéspera de nossa passagem, uma rapariga escrava tinha sido assassinada, à distância de um tiro de espingarda, pelos índios canoeiros; ia a caminho da fonte, buscar água, quando a cercaram uns vinte daqueles selvagens, pintados de preto, ferindo-a a flechadas e acabando de matá-la a cacetadas. Os moradores da casa acudiram aos seus gritos, mas apenas chegaram a tempo de ver os índios em debandada, levando consigo as vestes da vítima. Desde então, nesta infeliz fazenda, os moradores a custo ousavam aparecer à porta de suas casas e ninguém se arriscava a ir à fonte sem escolta de homens armados. O coronel fizera muitas viagens pelo interior do Brasil; quando moço, tomara parte na talvez única expedição que subiu o Araguaia, com fins comerciais. Contou-nos que esta viagem tinha sido feita com uma embarcação de mais de 60 palmos de comprimento e capaz de transportar três mil arrobas de mercadoria. Só a subida do Araguaia havia exigido quatorze meses. À noite mostrou-me o coronel algumas das flechas retiradas do corpo da moça; tinham menos de um metro de comprimento, sendo por conseguinte muito mais curtas do que as que até então tínhamos visto.

A formação geológica é sempre um terreiro de aluvião, superposto provavelmente ao gnaisse, visto como esta rocha aparece no leito do rio de Santa Teresa, cuja largura é de 25 metros no ponto em que o atravessamos a vau. Este rio tinha uma profundidade apenas de 38 centímetros; entre ele e a fazenda dos Itãs foram vistos muitos fragmentos de canga, prismáticos e empastados.

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