O naturalista no rio Amazonas - T1

em parte à ausência quase completa de preconceitos contra a gente de cor por parte dos habitantes. Este último modo de agir é uma coisa muito auspiciosa. Parece ser animado pela classe dirigente do Brasil e esse amálgama de raças dará, sem dúvida, os mais felizes resultados. Pude mais tarde, como terei ocasião de referir, contar negros livres entre meus melhores amigos: homens de costumes morigerados, quietos, desejando o progresso mental e moral, observando as pequenas cortesias da vida e tão honrados, em assuntos mais importantes, como os brancos e mestiços da província. Isidoro não era, talvez, escrupulosamente honesto em todos os casos, mas a honestidade escrupulosa é qualidade rara nos criados de qualquer parte do mundo. Ele se esforçava por demonstrar que sabia que tinha feito um contrato para cumprir com determinados deveres e procurava, evidentemente, executá-los da melhor maneira ao seu alcance.

Nossas primeiras excursões foram pelos subúrbios mais próximos do Pará. A cidade está situada numa língua de terra, formada pela junção do rio Guamá com o Pará. Como já disse acima, a floresta que cobre toda essa região, estende-se até junto às ruas da cidade. Esta foi efetivamente construída em terra desbravada e é mantida livre da invasão da selva pelos cuidados incessantes do Governo. O terreno, embora baixo em toda a sua extensão, é levemente ondulado, de maneira que alternam zonas de terra seca e alagada, caracterizadas por vegetação e fauna muito diferentes. Nossa residência estava na parte da cidade mais próxima do Guamá, à beira de uma dessas áreas baixas e alagadiças que aí se estendem sobre uma parte dos subúrbios. Estes são cortados por estradas bem macadamizadas, das quais a principal é a Estrada das Mongubeiras, de cerca de uma milha de comprimento. É uma magnífica avenida

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