para atender-nos. Como não tivéssemos outro meio de tornar conhecidos nossos desejos, fazíamos rápidos progressos no aprender o português. Fiquei muito surpreendido por não encontrar em Isidoro nem vestígios daquela vileza de caráter, que lera ser a regra entre os negros dos países escravocratas. Isidoro era um negro velho, com uma expressão ansiosa e melancólica no semblante e mostrava sinais de ter sofrido trabalhos excessivos em sua mocidade, que se consumira na escravidão. Os primeiros traços que nele percebi foram um certo amor próprio e espírito de independência. Verifiquei mais tarde que tais qualidades não são raras nos negros forros.
Algum tempo depois dele ter entrado para o nosso serviço, chamei a sua atenção por tardar em preparar o almoço. Não fora culpa sua pois ficara retido muito contra a vontade, no açougue. Respondeu à minha observação sem insolência, mas de modo tranquilo e respeitoso, dizendo-me como as coisas se tinham passado e que eu não devia esperar no Brasil a mesma regularidade que encontrava na Inglaterra, e que paciência(22) Nota do Tradutor era uma prenda necessária ao viajante brasileiro.
Não havia nada de ridículo em Isidoro. Ele possuía uma gravidade de conduta e um senso de justeza como se poderia exigir em um criado de qualquer país. O amor próprio é devido, na minha opinião, em parte ao tratamento bondoso que os escravos recebiam geralmente de seus senhores brancos nessa parte do Brasil, e