a velha nação, impondo-lhe os seus caprichos pessoais, as suas cruezas vis, e ufanava-se de estar reconstituindo Portugal. Enforcou sumariamente, sem processo, em altos paus erguidos pelas esquinas das ruas, os ladrões e incendiários, deixando‑lhes as cabeças pregadas nos patíbulos para exemplo. Procurou os homens onde ainda havia qualquer sombra de caráter: desterrou-os, ou fê-los executar. Chegou à insânia, na crueldade destas execuções.
A atividade de Pombal foi, de fato, portentosa: tinha dinheiro e um reino à disposição das suas iniciativas, e fez tudo quanto planejou. Se do seu governo não resultou mais do que uma agravação de misérias, qual o vemos no governo seguinte, é que essa atividade, nos intuitos e nos processos, era a mais imprópria para uma verdadeira regeneração. O caso, expressivo como é, não teria maior importância para estas páginas, se, por tantos modos, não se estendesse ao Brasil a obra de Pombal.
O menos reconhecido, nessa extensão, está na tradição de despotismo e autoritarismo, ligada ao renome do grande homem de Estado.
Ainda hoje, para os nossos mirrados estadistas, o ideal da ação política e de fórmula de governo é esse construir à Pombal, em ostensiva tirania, e bem arrogante autoritarismo. Finalmente, eles se dispensam de construir, mas a prepotência e a ostentação de energia parece-lhes indispensável à função de governador. Um \"Governo Forte!...\", alcançar e merecer um tal qualificativo resume o essencial das suas mais sãs ambições de glória. Construtor em papier-maché, Pombal não procurou outra base para o Portugal que intentou levantar, senão o Brasil mesmo. Não lhe dava a mente para verificar da persistência de produção das minas em que se abastecia, e menos ainda, para perscrutar o futuro, e imaginar até que ponto o Brasil, nas afirmações em que se patenteara, poderia consentir em