O Rio de Janeiro e seus arredores em 1824

ele dois escravos e as ferramentas essenciais, farinha e carne-seca, conseguindo do governo um lote de terra devoluta nas cercanias da Serra dos Órgãos, o qual nada lhe custou. Lá construiu miserável cabana, onde morava com seus escravos e vivia exatamente como eles, submetendo-se com estóica perseverança aos maiores desconfortos: o dia inteiro a arar, cavar e plantar, a ponto mesmo de superá-los nessas tarefas. Nestas tristes circunstâncias, tão alheias a qualquer ente civilizado, passou quatro anos, quase sem interrupção, de modo que está agora colhendo suficiente café de uma bem planejada plantação e, graças à venda gradativa da sua produção, já aumentou para sete o número de escravos. Sua lavoura progride diariamente, sem que por isso pense em melhorar o modo de vida ou o conforto de sua casa. Assim e só assim, pode-se e consegue-se — praticamente sem recursos — enriquecer em pouco tempo. Quem estiver disposto a tanto, que se inspire neste exemplo e faça o mesmo! Mas não se esqueça de que nenhuma das mencionadas condições pode ser transgredida; a menor concessão ao bem-estar, e às legítimas exigências sociais de qualquer ser civilizado, fará malograr irreversivelmente o objetivo visado.

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